A verdade sobre a morte de Alfonso Cano, 63 anos, comandante das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia (Farc), talvez nunca seja conhecida. O certo é que Cano, em condições físicas precárias, e o seu grupo de proteção estavam cercados em Cauca bem antes de sexta-feira, quando teria ocorrido o confronto e a sua morte.
Uma das versões em circulação fala em delação de membros da própria organização insurgente. Como se sabe, Cano, depois da morte em março 2008 do fundador e comandante Manuel Marulanda Vélez (apelidado Tirofijo), sofreu resistência à aprovação do seu nome como sucessor.
O descontentamento da base era bem conhecida e Cano não conseguia disciplinar e controlar os grupos que realizavam o tráfico de cocaína e maconha. Desde a morte de Mono Jojoy (setembro de 2010) as arrecadações não chegam aos cofres da cúpula de governo. Muitos guerrilheiros associaram-se a narcotraficantes e atuam sem dar satisfação aos comandantes das frentes armadas.
Desde o fim da União Soviética e a quebra econômica de Cuba, as Farc precisaram buscar fontes de financiamento criminosas: tráfico de drogas, sequestros para fim de extorsão, roubo de gado, exigência de pagamento de “taxa” da vacina de gado, “imposto” sobre as áreas de cultivo de coca e sobre a circulação da cocaína etc.
Ao contrário de Marulanda, Cano nunca foi unanimidade. Seu desgaste começou quando, pela cúpula de governo das Farc e não pelas bases (cerca de 8 mil guerrilheiros) foi proclamado chefe do movimento.
Cano era um intelectual. O seu nome verdadeiro era Guilermo Léon Sáenz . Antes de ingressar nas Farc foi professor universitário de antropologia. Nas Farc era o ideólogo encarregado da formação teórica dos guerrilheiros. Em 1992, foi designado, sem sucesso, como “embaixador das Farc” para tratar, no México, de um acordo de paz com o governo.
Desde que assumiu o comando em 2008, para as bases guerrilheiras e frentes combatentes, Cano era considerado como uma pessoa que preferia os livros à batalha.
Quando da morte de Marulanda e escolha do sucessor, o opositor de Cano era Mono Jojoy — uma espécie de ministro da guerra das Farc.
Diante desse quadro de indisciplina e legitimação contestada, Cano estava isolado, portanto, é bem possível ter havido delação.
A segunda versão — ao contrário da primeira que se refere à delação e ao bombardeamento, por terra e ar, de uma área determinada de Cauca — sustenta encontro casual. Ou seja, um grupo de soldados do Exército suspeitou, sem imaginar que Cano lá estivesse, de uma movimentação de guerrilheiros. Houve troca de tiros e Cano teria sido abatido e morto quando fugia. Essa segunda versão, por evidente, preserva, na organização eversiva, os delatores.
Cano não era apenas o “professor da guerrilha”. Ele tinha sangue nas mãos, pois mandou matar, por indisciplina, 40 guerrilheiros. A indisciplina marcou o governo de Cano nas Farc.
Com a morte natural de Marulanda e as elimiações de Rául Reyes, Mono Jojoy e Alfonso Cano, nenhum nome de destaque sobrou. Os especialistas falam que o novo líder será um jovem e que um acordo de paz vai ser possível.
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