Penso que ainda nos arrependeremos muito do desleixo com que tratamos a coisa pública brasileira. Quero falar de uma coisa pública muito especial: a política. Rebaixamos o que chamamos de política à condição de indignidade. Diferentemente do senso tão comum à opinião pública, contudo, discordo de que os culpados de tudo sejam os políticos. Não, não estou dizendo que os políticos são inocentes. Em verdade, eu até os tenho por muito culpados, culpabilíssimos, aliás.
Não é contradição
Mas não me contradigo? Nego a contradição e explico o meu dizer. Política é uma relação. Há causas e efeitos. Essa política vagabunda que vivemos não brotou do nada. A gente vinha se arrumando pelo caminho democrático até que a igreja católica, os quartéis militares, a direita reacionária e os interesses americanos mancomunaram-se e derrubaram o governo Goulart. Daí, a ditadura. Cassaram, expulsaram, torturaram e mataram muitos políticos. Um desfalque na história.
Mas não me contradigo? Nego a contradição e explico o meu dizer. Política é uma relação. Há causas e efeitos. Essa política vagabunda que vivemos não brotou do nada. A gente vinha se arrumando pelo caminho democrático até que a igreja católica, os quartéis militares, a direita reacionária e os interesses americanos mancomunaram-se e derrubaram o governo Goulart. Daí, a ditadura. Cassaram, expulsaram, torturaram e mataram muitos políticos. Um desfalque na história.
Eleitor também tem culpa!
A política, para muitos arrivistas, é um modo de ganho pessoal. É verdade, vários políticos têm a política como negócio. E investem, de olho no retorno. Mas, e o eleitor? Ora, uma enorme parte do eleitorado vê as eleições como o momento do acerto. Para muito mais povo do que se imagina, o voto não é ato consciente de cidadão esclarecido. Nada disso. Não falta quem tenha o voto como senha de escambo, uma espécie de passe para o acerto. E acerta e se acerta. Sem inocência, sem ilusão.
A política, para muitos arrivistas, é um modo de ganho pessoal. É verdade, vários políticos têm a política como negócio. E investem, de olho no retorno. Mas, e o eleitor? Ora, uma enorme parte do eleitorado vê as eleições como o momento do acerto. Para muito mais povo do que se imagina, o voto não é ato consciente de cidadão esclarecido. Nada disso. Não falta quem tenha o voto como senha de escambo, uma espécie de passe para o acerto. E acerta e se acerta. Sem inocência, sem ilusão.
Puro desinteresse
“Político é tudo igual, não vale nada, então, agora, eu vou aproveitar a minha vez”. Não se quer saber, não se acompanha, não se sabe nada de políticos. Critica-se genericamente. Há pouca informação específica. Eu creio que as pessoas não se apercebem dos números das pesquisas sobre essa questão. Pois bem, transcorridos apenas 30 dias desde o último pleito e, já então, mais da metade da população não sabia quem sufragara. Destarte, de que modo estamos interessados em política?
Outros interesses vêm primeiro
De futebol, sabe-se tudo. Discorre-se em mesa de bar a ficha corrida de qualquer jogador, técnico, time ou adversário. Sabem-se namoradas, jogadas, detalhes. Ou seja, há, sim, memória, e guardam-se as informações que interessam. Política, contudo, não importa. Nisso, de política, leva-se tudo de roldão. Quero dizer, não se controvertem ideias ou rumos. Discutem-se interesses, no mais das vezes menores, e conforme as vantagens, sem constrangimento, justifica-se tudo.
De futebol, sabe-se tudo. Discorre-se em mesa de bar a ficha corrida de qualquer jogador, técnico, time ou adversário. Sabem-se namoradas, jogadas, detalhes. Ou seja, há, sim, memória, e guardam-se as informações que interessam. Política, contudo, não importa. Nisso, de política, leva-se tudo de roldão. Quero dizer, não se controvertem ideias ou rumos. Discutem-se interesses, no mais das vezes menores, e conforme as vantagens, sem constrangimento, justifica-se tudo.
Quanto desrespeito
Falo essas coisas tendo em vista essa “campanha” infame que se espalhou pelas redes sociais. São inúmeras páginas, milhares de compartilhamentos de uma mediocridade rasa gozando a sua vingancinha, mandando um ex-presidente da república tratar-se pelo SUS. Não votei no Lula, mas sei que se trata de um senhor que presidiu o meu país e cumpriu dois mandatos. Ao fim de oito anos, ainda era aprovado por farta fatia do eleitorado. A Lula, o político, respeito, pois.
Falo essas coisas tendo em vista essa “campanha” infame que se espalhou pelas redes sociais. São inúmeras páginas, milhares de compartilhamentos de uma mediocridade rasa gozando a sua vingancinha, mandando um ex-presidente da república tratar-se pelo SUS. Não votei no Lula, mas sei que se trata de um senhor que presidiu o meu país e cumpriu dois mandatos. Ao fim de oito anos, ainda era aprovado por farta fatia do eleitorado. A Lula, o político, respeito, pois.
Pátria precisa de honra
Sei, é uma delícia a desforra: “Lula, foste tu que disseste que o SUS do teu governo beirava a perfeição, então te trata lá”. Mas não é essa a questão. Não pode ser. A questão é que o Lula, não obstante o vício da jactância, presta. Essa é a questão: o Lula é um político que presta. Então, quem sabe não seria melhor colocá-lo em salvaguarda com outros políticos honrados dos quais a pátria tanto necessita? Creio que estaríamos cumprindo melhor o digno dever de emprestar dignidade à política.
Sei, é uma delícia a desforra: “Lula, foste tu que disseste que o SUS do teu governo beirava a perfeição, então te trata lá”. Mas não é essa a questão. Não pode ser. A questão é que o Lula, não obstante o vício da jactância, presta. Essa é a questão: o Lula é um político que presta. Então, quem sabe não seria melhor colocá-lo em salvaguarda com outros políticos honrados dos quais a pátria tanto necessita? Creio que estaríamos cumprindo melhor o digno dever de emprestar dignidade à política.
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