Amigos do blog, enquanto o presidente americano Barack Obama se preocupa – não sem razão, é claro – com as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas também com a paz entre árabes e israelenses, com as ameaças da Rússia à Geórgia e à Ucrânia ou com a situação da Coreia do Sul, há um vulcão jorrando a lava da crise bem ali a seu lado: o México, enredado numa tragédia que está adquirindo contornos de guerra civil, no enfrentamento entre as forças do governo e os poderosíssimos cartéis de traficantes de drogas.
Nada menos do que 35 mil pessoas já morreram – mais da metade de todos os soldados americanos mortos na Guerra do Vietnã, ao longo de década e meia – desde que, em 2006, o governo do presidente Felipe Calderón declarou guerra ao narcotráfico e colocou as Forças Armadas na luta contra os criminosos. As coisas, paradoxalmente, pioraram. Há cálculos dando conta de que, entre bairros, pedaços inteiros de cidades e áreas de Estados, de um quarto a 30% do território mexicano já estão sem a presença do Estado e dominados pelos tenebrosos cartéis, cuja marca registrada é mandar recados – a autoridades, a cartéis rivais, a quem seja – decapitando pessoas.
Entre 80 e 100 mil homens na guerra aos ‘narcos’
Há entre 80 e 100 mil homens combatendo os traficantes (os números exatos o governo não disponibiliza), mas a ação do Estado está minada por uma corrupção cada vez mais disseminada – o poder do dinheiro dos traficantes é gigantesco –, pela falta de articulação, quando não a rivalidade, entre as forças da ordem, como a Polícia Federal, autoridades locais e militares, e as dificuldades enfrentadas pelas Forças Armadas, inclusive na falta de preparo para recolher provas judicialmente válidas para condenar os dezenas de milhares de presos.
Por que os cartéis mexicanos se fortaleceram
Washington tem a obrigação de se preocupar com os acontecimentos do vizinho do Sul porque são os cartéis mexicanos que controlam praticamente todo o fluxo da droga consumida pelo gigantesco mercado consumidor dos Estados Unidos, o maior do mundo.
Por ironia, a questão da droga cresceu de forma brutal no México depois que os Estados Unidos passaram a ajudar pesadamente a Colômbia em sua luta contra os quartéis, como os de Medellín e de Cali, bem como a guerra contra os narcotraficantes das assim chamadas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a quem o governo colombano, sob o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) e o sucessor que elegeu, o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, vem impondo uma derrota militar.
O problema mexicano atravessou a fronteira
Essa situação foi que levou o prefeito da Cidade do México, Marcelo Ebrard, que deverá ser o candidato da esquerda às eleições presidenciais de 2012, a dizer, durante encontro com empresários em Guadalajara: “Precisamos nos sentar à mesa com os Estados Unidos e falar a sério com eles, porque a verdade é que é muito difícil que vençamos uma batalha desse porte sem a participação dos Estados Unidos”.
A guerra no México já penetra as fronteiras americanas. São muitos os casos de policiais americanos ameaçados de morte pelos cartéis mexicanos, de sequestros e assassinatos ligados às drogas no Arizona e no Texas, de incursões de bandidos mexicanos ao Novo México e até ao Colorado, sem contar os jovens americanos de origem mexicana, desempregados, que vêm sendo arrebanhados para trabalhar para o crime.
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