Por Paulo Moreira Leite
Nunca tinha ouvido falar de Carlos Pinkusfelde Bastos, professor do Instituto de Economia da Universidade do Rio de Janeiro. Ele é especialista em economia americana e tem opiniões claras sobre a crise daquele país. Deu um bom depoimento sobre a crise, publicado pela Folha.com.
Ao comentar o acordo pífio de Barack Obama com a oposição republicana, recebido com um colapso mundial das Bolsas, ele explica que o regime político americano pode ser definido como a “democracia dos lobbies”. É um bom diagnóstico para descrever o formidável poder de barganha e pressão de corporações privadas que representam interesses bilionários e compram apoio político com generosas contribuições de campanha e outros favores. Em troca, são agraciadas com uma política economica que esvazia o Estado, reduz benefícios sociais, diminui impostos cobrados das parcelas mais ricas e até distorce decisões políticas bem intencionadas.
Ao comentar o pacote fiscal amarrado depois da crise de 2008, quando 800 bilhões de dólares foram destinados ao sistema financeiro, o professor lembra que a ajuda impediu a quebra dos grandes bancos do país. O problema, explica, é que os bancos até recuperaram a saude anterior mas não retribuiram com uma política de credito capaz de estimular o crescimento, preferindo engordar seus balanços e proteger os lucros, deixando a economia americana na perigosa situação à deriva em que se encontra até hoje.
Ao comentar a política de corte de gastos promovida por governos republicanas a partir dos anos 80, Carlos Bastos lembra seus efeitos no plano federal e no estadual, que já eram visíveis antes da explosão da crise. Num caso, ocorreu a elevação das alíquotas da Previdencia para compensar a queda no imposto dos contribuintes mais ricos. A carga tributária não diminuiu, apenas tornou-se mais regressiva.
Ao realizar uma política semelhante, os governos de Estado criaram situações absurdas. Na California, a falta de dinheiro para comprar comida para os presos detidos em penitenciárias levou o governo a abrir a porta de cadeias. No Arizona, a falta de policiais leva um número cada vez maior de cidadãos comuns a realizar rondas para zelar por sua segurança. No Hawaí, a semana escolar foi reduzida para permitir a redução do salário dos professores.
Nessa condição, os governos estaduais contribuiram muito pouco para tirar o país da crise. Na conta final, o setor público passou a colaborar com demissões e com a elevação do desemprego.
Falando sobre a guerra cambial, que ameaça as exportações do Brasil e de outros países, o professor explica que não é realista criticar as instituições americanas por realizar uma política que ajuda a proteger o emprego de seus trabalhadores e o crescimento de sua economia.
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