O partido do capitalismo brasileiro
Dilma e Serra não brigam apenas pela Presidência da República. PT e PSDB também têm olhos para muito além dos resultados de 3 de outubro. As duas legendas ambicionam ser o interlocutor privilegiado de agentes econômicos de grande porte junto ao Estado brasileiro nos próximos anos e, para isso, buscaram alianças para se estenderem ao máximo no poder. No fundo, desejam mesmo ser o partido do capitalismo brasileiro.
É por esta razão que na campanha alguns temas saem como coelhos da cartola de um mágico. Sem muita importância para a luta imediata por votos, em verdade são usados para golpear estrategicamente o adversário. E um desses assuntos mágicos da campanha atual tem sido o BNDES, o grande financiador de longo prazo no Brasil, 100% estatal, que recebe recursos do Tesouro e do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT).
O Banco foi escolhido por Lula para cimentar a aliança de poder que o PT firmou com um seleto grupo de grandes agentes econômicos dos setores industrial, agrícola e extrativista. Ao financiar essas empresas em sua expansão internacional, o BNDES se transformou no principal instrumento de projeção do poder econômico do Brasil na América do Sul e na África. Não por coincidência, são também essas as regiões prioritárias da política externa brasileira.
Desde que o PT chegou ao poder, em janeiro de 2003, o BNDES quadruplicou seu orçamento para US$ 90 bilhões em 2009. Recebeu aportes de R$ 180 bilhões do Tesouro e sustentou internamente a disponibilidade de crédito durante a crise financeira de 2008. Vendo essa relação entre governo e grandes multinacionais brasileiras se consolidar, o PSDB atacou, embora tarde e inaptamente, estimando corretamente que a parceria de poder dos petistas durará enquanto estiver em alta o mercado internacional de commodities. Ou seja, provavelmente por muitos anos.
Os tucanos atacaram a histórica falta de transparência do Banco – o que é um fato, por si, escandaloso. Mas, pasmos, calaram-se diante do apoio imediato que as maiores associações industriais brasileiras deram ao BNDES. Capitaneadas pela Associação Brasileira de Indústrias de Base, quase 20 delas publicaram em julho manifesto defendendo a política de crédito do Banco e mandaram seu recado: com esses empréstimos, estamos com Lula e não abrimos.
Aliás, tucanos estão muito pouco a cavalheiro para criticarem petistas. Embora nos anos FHC sua parceria mais orgânica tenha sido com o capital financeiro, também utilizaram o BNDES para azeitar suas alianças e o fizeram operador da ideologia do Estado mínimo e da desnacionalização da economia. Porém, quando perdeu em 2002 as eleições presidenciais, o PSDB abriu o flanco e um PT pragmático (lembram-se da Carta aos Brasileiros?) aproveitou-se da conjuntura internacional e passou a estimular a criação dos “campeões nacionais”.
Assim, empresas de todos os portes passaram a receber do Banco vultosos aportes e participações acionárias para ganharem musculatura e figurarem entre os maiores exportadores de commodities agrícolas, minerais e energéticas em nível internacional. Hoje, elas são as maiores tomadoras de empréstimos do BNDES.
Claro que o PT agrada também à banca e não somente ao capital produtivo. Henrique Meirelles é prova viva. Deixou um mandato de deputado federal pelo PSDB de Goiás, após presidir o Bank Boston, para ser elevado por Lula, desde o primeiro dia deste na Presidência, à chefia do BC independente de fato. Meirelles e as altas taxas de juros afiançam Lula junto à banca internacional. Mas, no fundamental, o PT está aliado à indústria de base e aos exportadores de mercadorias e aposta o quanto pode que essa parceria vai durar.
Neste cenário, ficou muito difícil para o PSDB a disputa pela primazia da intermediação entre o Estado e grandes capitais. E, ainda por cima, a se confirmar a tendência de Dilma ganhar no primeiro turno e os rumores de que Aécio deixará o PSDB para fundar seu próprio partido, o quadro ficará ainda pior para os tucanos. Porque, aí, estará aberta uma janela histórica para o PT se tornar o partido do capitalismo brasileiro no século 21.
Carlos Tautz é jornalista
Comentário: A política de fortalecimento da economia real foi o motivo para o Brasil entrar na maior crise mundial desde 1929 velejando, transpassando a tormenta.
Em épocas de desnacionalização e apoio incondicionado ao capital financeiro qualquer respiração mais forçada da economia mundial, o Brasil sucumbia.
Até porque os apoiados tinha interesse na instabilidade econômica (juros altos, Selic na estratosfera, economia real em frangalhos).
E tem gente quem tem saudade!
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